Já é inverno, o tempo passou rápido, a chuva está caindo e
as gotas de água deslizam pelo vidro da janela que está fechada, fico
observandoas gotas apostarem uma corrida até o parapeito. Está frio e estou
enrolada nos cobertores feitos de lã, era da minha mãe e desde pequena me
aqueço neles. A casa está tomada pelo cheiro de terra molhada porque cultivo um
jardim na varanda.
O telefone toca e
parece um tremendo barulho em meio ao silêncio profundo que preenchia minha
casa, com um poucode esforço estico o braço para fora da cama e atendo o
telefone que fica na mesinha de cabeceira, solto um “alô?” misturado com
suspiro, a voz do outro lado da linha responde e reconheço o timbre dessa voz
rouca e cansada que sempre faz meu coração acelerar e dessa vez não foi
diferente, meus batimentos cardíacos faziam um eco nos meus ouvidos, batia tão
forte e rápido que minhas costelas doíam.
Mesmo sabendo quem
era perguntei “quem é?” e a voz respondeu, entediada “não reconhece mais?”
respirei fundo “é só para ter certeza” e ele finalmente confirma o que eu já
tinha certeza “é o Amor... A Carência e a Solidão me disseram que talvez você
estivesse precisando de mim, então resolvi ligar”. Eu não sabia se deveria
ficar feliz, afinal de contas, a Carência e a Solidão estavam sendo minhas
fieis companheiras desde que o Amor me deixou, nós brigamos e eu não tinha
certeza se queria ele de volta na minha vida.
“Queria pedir
desculpas, será que você pode abrir a porta para mim novamente?” o Amor pediu
com sua voz persuasiva, eu sabia que iria ceder uma hora ou outra, porque é
sempre assim, ele vem atrás de mim e entra na minha vida aos poucos e as piores
situações são essas, quando ele pedia desculpas e licença, então eu dou
permissão e o Amor tomava conta de tudo.
A campainha tocou, eu
já deveria saber que ele estaria esperando, o Amor sabia que eu ia ceder porque
a Carência e a Solidão já tinham começado a trazer a tristeza para tomar chá
comigo e logo a Depressão viria também e sempre que o Amor me visitava ele
convidava sua amiga Felicidade, escorreguei para fora da cama e fui atender a
porta. “Olá Eric” digo, “Olá” Eric responde sorrindo, o Amor está ao lado
direito dele com sua habitual cara de vitorioso, porque ele sempre ganha e a
Felicidade do lado esquerdo sorrindo, como sempre, porque ela só tem essa cara.
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